A Crowley o que é de Crowley
- Vesta N.O.X.
- 1 de dez. de 2022
- 2 min de leitura

Hoje é o aniversário de morte de Aleister Crowley. Nos referimos à data da morte de um thelemita como a Grande Festa, uma vez que vemos este fim de ciclo como a grande coroação do mesmo e o momento no qual o que antes era manifesto, agora volta a fazer parte do corpo de Nuit, num reencontro com a Grande Deusa.
Sempre é polêmico falar da Besta, ainda mais em se tratando de alguém que critica bastante o inglês e muitas de suas ideias, como é meu caso. Infelizmente, vivemos em um tempo no qual é muito difícil para as pessoas aceitarem uma verdade que, no frigir dos ovos, é bem simples: ser crítica não significa, em absoluto, uma negação do reconhecimento da importância nem muito menos da genialidade de alguém.

É assim minha relação com Crowley: complexa, dúbia e muitas vezes hipócrita. Longe de mim querer retirar meu defeito humano (demasiadamente humano) da hipocrisia. Nesse ponto, inclusive, me aproximo bastante da nossa personagem do dia.
Mas indo ao que realmente interessa, neste 1º de dezembro de 2022, quero reafirmar a importância magnânima de Crowley para mim e para todos que amam o ocultismo. Colocando nossas diferenças de pensamento, nossas incoerências e o zeitgeist de lado, sobra o fato básico e intrínseco: ele foi o profeta do Novo Aeon.
Como todo profeta, não foi capaz de viver plenamente a espiritualidade que profetizou mas se deu ao trabalho de deixar um legado gigantesco para que nós, as crianças guerreiras, desbravemos esses novos tempos, trabalhemos para aparar arestas e alinhar melhor o discurso e as práticas da nossa religião ao nosso Livro Sagrado. Tudo isto forma um ciclo holístico, inteiro.
Ter se proposto a criar tanto, a reconhecer muitos de seus erros, a mudar de ideia, a

trabalhar anos a fio em prol de conceber sempre o melhor que podia são características exemplares do nosso profeta favorito. A coragem de ir contra o status quo, de tentar se importar o mínimo possível com o que os outros pensam, de nadar contra a maré e de se envolver nas questões que julgava importantes nos demonstram o quanto ele buscou ser fiel às suas próprias convicções.
Eu acredito que até o fato de Thelema ter sido estruturada de forma totalmente judaico-cristã tem sua respeitabilidade, afinal ela bebe da nossa herança e, no fim das contas, o sistema apenas reforça, num tom bastante sarcástico, que os profetas são humanos. Por mais que Crowley tenha sido algoz de seu zeitgeist, ele não escapou de ser também vítima indefesa.
Minha homenagem pode ter a primeira vista um tom passivo-agressivo. Mas meu objetivo é mostrar que é possível admirar alguém profundamente e ser fã de seu legado sem, contudo, abrir mão dos recortes críticos e buscar mudar aquilo de que discorda. A Crowley o que é de Crowley.
Cá entre nós, se estivesse aqui e agora eu acredito que Crowley gostaria muito mais dos thelemitas subversivos, criativos, indomados e pagãos do que daqueles que meramente repetem as palavras dele como papagaios sem alma e confundem magick com reprodutibilidade técnica. Talvez eu esteja romantizando mas acredito que em 2022 nosso profeta já teria aberto mão de seu iluminismo masculinista e compreendido que o que verdadeiramente precisamos é do retorno à Deusa e do renascimento da Beleza.
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